As histórias das pessoas que venceram o câncer, certamente, envolvem a superação de um grande desafio. Afinal de contas, além de lidar com os sintomas da doença, também é necessário lidar com toda a carga psicológica.
Mulher, mãe, amiga, empresária, palestrante, a há 50 anos… incansável. Essa é uma breve descrição de Sila Spies Schroeder, 69 anos, que descobriu um câncer de mama em agosto de 2020, aos 66 anos. Na luta contra a doença, Sila afirma que a rede de apoio da família, a fé e o desejo de contar o final dessa história foram motivos para não desistir.
Com a palavra, Sila:

“Em primeiro lugar, sou muito grata por ser lembrada para participar deste importante trabalho, que tenho a certeza de ser muito útil, e talvez esclarecer aos leitores o que se pode esperar do câncer. Acredito que vem em um bom momento, afinal, é assustador o número de novos casos que são diagnosticados todos os dias.
Para deixá-los a par, o meu câncer foi um câncer de mama.
Como eu tinha uma vida muito corrida, posso dizer que praticamente não tirava um tempo para cuidar de mim. Não fazia os exames, não fazia a mamografia, afinal, nunca ou pela cabeça que eu, um dia, poderia ter câncer.
Certa noite percebi, como posso dizer, uma coceira, na mama no lado direito, apalpei e percebi algo duro. Neste momento já me ocorreu um susto. Tentei apalpar melhor. Nossa! Isso é um nódulo. Não preciso nem falar que aquela noite já não dormi. No dia seguinte desmarquei todos os meus compromissos e corri para o hospital. O doutor me encaminhou para a mamografia, ressonância, primeiros exames, primeiros dados, enfim: câncer! Posso hoje dizer que o momento mais chocante, o mais terrível, é aquele momento que se recebe um diagnóstico dizendo que você tem câncer. Esse foi o meu diagnóstico: “câncer de mama”. A casa caiu para mim e para a família toda, pois, na verdade, sempre fui considerada uma fortaleza para eles.
Foi um choque enorme, até porque na minha família já havia um histórico da doença, do meu irmão Élio, de 41 anos, que perdeu a vida devido o câncer há 22 anos. E aí o que veio na mente? Bom, agora eu posso cuidar do meu fim. Agora vou morrer. Foi realmente esse o pensamento que me veio na hora. Mas neste momento entra a incrível medicina, os profissionais médicos que me tranquilizaram e orientaram. Acredito que este é um ponto muito importante para superar a doença: a confiança na medicina.
Após isso, foi um mês inteiro de exames. Logo parti para cirurgia e radioterapia. Nessas alturas eu já tinha muita confiança, apoio imprescindível da família e muita fé em Deus e, assim, consegui superar. Devido a minha idade e o tipo que câncer que eu tinha, foi dispensado o tratamento quimioterápico. Hoje me sinto muito bem. Ainda estou em monitoramento, tomo medicação, que há princípio é para ser durante cinco anos, sendo que estou apenas no terceiro ano.
Abro aqui um parêntese para falar da minha filha Cristina, que reside em Florianópolis. Após o meu diagnóstico, ela também realizou diversos exames e acabou descobrindo a mesma doença. Para ela o câncer foi muito mais agressivo. Isso porque a parte hormonal estava muito ativa. A minha parte, na minha idade, já estava mais acomodada, mais silenciosa. Como o caso dela houve necessidade de quimioterapia, foram dois momentos terríveis: o diagnóstico e a perda do cabelo. Esse segundo momento no câncer eu não vivi, mas senti essa dor pela minha filha. Minha dor maior também foi ter minha filha ando por essa doença e não poder estar ao seu lado.
O que hoje eu posso dizer do câncer? Em primeiro lugar, que devemos dar mais valor para nós mesmos. Eu tenho muitas lições quanto a isso. O apoio da família e amigos é extremamente importante para superar a doença. Buscar, inclusive, ajuda psicológica, terapia. É um turbilhão de sentimentos e um fardo muito pesado para se carregar sozinho.
O câncer foi uma agem, ou melhor, deu uma guinada na minha vida e provocou uma mudança radical. Aprendi muito. Ninguém é supermulher ou super-homem. Todos temos momentos frágeis. Eu aprendi a me permitir entender que também preciso dos outros, que a gente não é autossuficiente.
Também me permiti cuidar mais de mim, fazer exames, fazer a prevenção. Diria hoje que, sinceramente, aprendi que a vida não é só correr, trabalhar e correr atrás das coisas desse mundo.
Aprendi também a dizer não. Sempre fui uma pessoa muito comunitária e muito prestativa para todo o mundo. E essa parte eu ainda faço o que é possível, mas hoje não me sacrifico mais tanto pelos outros. Hoje, sempre eu estou em primeiro lugar, o que durante quase a vida toda eu não fiz. Hoje eu coloco meu ser e minha família em primeiro lugar.
Tenho muita confiança que esse mal não voltará mais para mim. E claro, à medida que a idade avança, a gente precisa cada vez mais cuidar do seu organismo e praticar uma saúde preventiva, e é isso que eu estou buscando agora. Hoje eu encontro muito prazer em cuidar da minha casa, viajar, ler, continuo com as palestras, tenho um tempo para o ócio, afinal, depois de um diagnóstico de câncer, tudo se reduz a uma única coisa: viver a vida intensamente, pois cada momento é único.
Para finalizar, gostaria de deixar a frase ‘O Senhor da vida é Deus’. ”
Estou com câncer, e agora?
Mais que 27% dos brasileiros sofrem com medo de ter câncer algum dia. A doença está no topo da lista das situações mais temidas. Sem dúvida, o processo de lidar e tratar a progressão do câncer é estressante e exaustivo para os pacientes e seus familiares por diversos motivos. Angústia, medo e muitas dúvidas são comuns desde os primeiros momentos em que se pensa na possibilidade de se ter a doença. Nessas horas, a informação costuma ser uma das melhores aliadas. Muitos tipos de câncer têm boas chances de serem curados, mas isso sempre depende do estágio e do tipo de doença. Portanto, o conhecimento sobre o assunto afasta medos e inseguranças, além de melhorar a qualidade de vida do paciente.
4 de fevereiro- Dia Mundial do Câncer
O dia 4 de fevereiro foi escolhido como o “Dia Mundial do Câncer”, uma oportunidade para disseminar informações sobre prevenção e controle da doença.

Conforme a Dra. Natália da Silva, médica da Unidade de Saúde de Santa Helena, o Dia Mundial do Câncer foi criado para reforçar a importância da conscientização sobre esse diagnóstico tão temido por todos. “É sempre importante frisar que devemos buscar o diagnóstico precoce, o qual pode ser realizado por meio de exames de rotina. Também, devemos lembrar que não somente na terceira idade deve-se buscar atendimento e ter uma vida mais regrada e realizar exames laboratoriais ou investigação de doenças, mas sim em todas as fases da vida, inclusive na infância, visando ter um desenvolvimento de toda sua vida uma vida saudável”, destaca.
Natália afirma que, normalmente, o paciente que desenvolve um câncer pode vir a ter alguns sintomas como fraqueza, náusea, vômitos, inapetência, perda de peso repentina, dor no corpo, entre outros muitos, bem como podem até mesmo não ter sintomas nenhum. “Muitas pessoas têm um diagnóstico de câncer ou suspeita de um diagnóstico de câncer ao fazer um simples hemograma, por exemplo. Por isso é tão importante que todos façam exames de rotina anualmente. Também pode-se investigar a presença da doença com a utilização de exames complementares como uma tomografia, exame de ressonância, biópsia, ultrassom, dentre outros exames”.
A doutora enaltece que o diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte para o paciente. “Agora temos prevenção, detecção precoce e terapias de ponta, que proporcionam prognósticos mais favoráveis. Também é sempre importante buscar apoio emocional, familiar e médico para uma melhor qualidade de vida para superar esse obstáculo. Além disso, é importante salientar que o paciente, quando recebe o diagnóstico de câncer, tem toda a sua vida modificada, sua estrutura familiar, sua rotina de trabalho, tudo o que envolve esse paciente se modifica. Então, é importante lembrar que nós não devemos frisar somente a doença, mas sim o paciente em si e todas as suas necessidades além do câncer, visando ter, assim, um melhor enfrentamento dessa doença”.
Alguns hábitos de vida, como por exemplo o tabagismo, o etilismo e o sedentarismo, aumentam os riscos para o desenvolvimento de câncer. “É por isso que todos os médicos reafirmam a importância de ter hábitos saudáveis, como por exemplo a realização de caminhadas diárias e diminuição do consumo de alimentos industrializados”, explica a profissional.
Natalia destaca também a importância do autocuidado. “Cada pessoa deve, quando perceber sintomas que não são comuns no seu dia a dia, acender um sinal de alerta e buscar, o quanto antes, ajuda de profissionais, para que possam investigar melhor as causas desses sinais e sintomas, afinal, a detecção precoce do câncer é a mais rápida forma de cura”, finaliza.